terça-feira, 1 de maio de 2012

JORGE MONTEIRO DE LIMA (PSICOLOGO)

Acho engraçada a vida do homem no Brasil. Lá ia eu comendo um x-tudo em um pacato pit-dog (lanchonete montada em trailer) na vizinhança, lascando o dente em um pedaço de queijo quente, que mais parecia um chiclete resistente provando a lei da elasticidade, quando ouvia na mesa ao lado três rapazes em profunda discussão:
- Cara eu comi a menina três vezes sem tirar.
- Besta! Eu, com a Iraninha, fiz ela me pagar uma gulosa, depois fiz ela gemer a noite inteira de tesão. Retrucou o colega.
- E eu que saí com a Tatiana e com a prima dela e comi as duas por mais de 8 horas...
Acho que sairia dali extremamente preocupado com minha virilidade caso os referidos jovens não tivessem uma faixa etária de 12 ou 13 anos no máximo. Aliás, lembro-me desta fase com os coleguinhas de escola e da rua. Todo mundo descobrindo as sacanagens do mundo, quando a punheta com a Playboy valia ouro e aprendíamos a sexualidade naquilo que ninguém ensinava, mas todo mundo fazia. Um paradigma que até hoje em nada se diferenciou, mesmo após a revolução sexual dos anos 70. Lembro-me da tia Eliane nas aulas de inglês com as calças coladas ao útero. Haja talco pra entrar ali. Em pleno colégio era nossa musa virtual. E emergia uma competição velada sobre qual aventura sexual era a mais interessante com a referida professorinha. Sim, uma ninfomaníaca virtual vítima de todos os anseios sexuais da garotada em plena pré-adolescência. E a coitada nem desconfiava de nossa devassidão e ali lecionava, intocada, qual a deusa Artemis.
Só que naquela época já percebia que era "normal" mentir ou exagerar sempre com relação a sexualidade. Hábito masculino de tradição, genético e hereditário.
O beijo na boca da filha da vizinha, diga-se de passagem, um tremendo bagulho, virava aventura de Odim no mundo maravilhoso de Oz. A menina virava uma ninfomaníaca sedenta de sexo, devassa, doida pra chupar até seu pensamento. Plásticas mil a transformaram numa Sheila Carvalho e ela já não mais era feia, mas alta, loira de olhos azuis. Puramente tarada, com 23 anos contra nossos 12 ou 13 aninhos. Bendita pedofilia!
Violentados ao êxtase a fazíamos gozar por mais de 44 vezes. Daí, mamãe batia na porta:
- Filho, vai acabar a água da caixa. Saco de banho demorado. Quero fazer xixi.
E lá ia a loira embora levando junto até mesmo o bagulho da filha da vizinha.
Comer x-tudo é legal, você nem sabe o que virá lá dentro. Enigmas do universo. E lá vem pimenta!
Observando os meninos falando mais que político exagerado prometendo asfaltar o universo todo, volto-me à triste condição masculina. Fantasia e sexualidade andam juntas, mas em que lugar fica o exagero? Por que ele é tão comum? Aqui a lei de Gerson impera: negócio é levar vantagem em tudo.
Mas, para piorar, não basta comer, tem de espalhar. E dai a fofoca masculina vira uma devassidão ilimitada capaz de deixar o autor de kama-sutra envergonhado diante de tamanhas proezas. E por que se faz necessária tamanha auto-afirmação? E lá vai maionese colo abaixo.
Ninguém assume assim uma broxada. Já pensou:
- Cara, ela balançava, lambia, apertava, se esfregava e nada. Tentou por horas a fio, mas nem sinal de vida! Resisti bravamente por mais de 10 horas até que ela cansou.
- Aquela loira linda! Broxei com ela um final de semana inteiro. Tava cançado e ficamos só abraçadinhos sem sexo, pura ternura!
Ao contrário, os moleques continuavam sua aventura estupefatos ante a tantas proezas de seus colegas. Logo já não eram dois ou três, mas uma dúzia, que agora envolvia adultos e demais desocupados em coro uníssono:
- Putaria! Putaria! Putaria!
E dar banho na minhoca ali era pouco pra pescador.
Agora, falando sério, a fantasia, quando sobre pra cabeça no mundo Masculino, é de doer. Intimidade não existe na imaturidade. E pobre da mulher que envolver-se com um homem assim. Mas os nossos futuros políticos assim começam cedo. Se a moda do Pinochio pegasse de verdade ia ter muito narigudo na sociedade.
Isto para não falar da competição pelo tamanho do pênis, que logo veio a baila no pit-dog: 20cm, 21, 28, 60, parecia contagem progressiva para lançamento de foguete espacial. E para quê?
Volto-me à boa e velha broxada quotidiana. Se houvesse tanta virilidade assim na sociedade teríamos simplesmente uma erupção demográfica incontrolável, e nossas mulheres não desconheceriam tanto a existência do que chamamos de orgasmo. Dados estatísticos mostram claramente que mais de 60% das mulheres adultas casadas jamais sentiram orgasmo, isto na faixa dos 40 anos de idade.
Das duas uma: ou sobra fantasia e mentira ou na sociedade existem meia dúzia de privilegiadas que devoram todos os nossos viris atletas, deixando todas as outras infelizes de lado.
Por que nós, homens, entramos nesse aspecto fantasioso de contar vantagens? Qual necessidade perversa se manifesta de tornar mulheres em meros e simples objetos de consumo sexual?
E lá vai nosso coro uníssono madrugada adentro em plena orgia Intelectual, qual sede de partido político. Já não eram mais centenas, mas sim milhares agora trazidos pelo imaginário coletivo. Emergia vovô aos 80 anos que comia todas as empregadas do prédio, papai com 3 ou 4 amantes, enfim cada mentiroso acrescentava mais um ponto à mentira anterior. E ninguém jamais broxava. Todos sempre eretos, fortes, saudáveis, dispostos, cheios de vida e de sêmen. Sim, muito sêmen na cabeça.
Lá no fundo uma menina de seus 18 aninhos assistindo aquilo tudo ao lado do namoradinho, ilesa. Omissa e quieta, rindo abertamente da situação.
Vivemos em sociedade puramente machista. Contudo, um machismo que começa no matriarcado, ou seja, pelo machismo das próprias mulheres. Sim, elas, que criam tais seres desprezíveis, os amamentam, dão sua educação, ensinam o desrespeito pelas mulheres, a começar pela própria mãe.
Machismo feminino rindo noite adentro achando tudo aquilo o máximo.
E a infinitude do sanduíche nos preenche a boca.
E o mito masculino de que um homem bom tem de ter no mínimo duas amantes, além da esposa ou da namorada? Para não falar da pseudo- fidelidade, que no lugar da amante arruma visitas semanais regulares e freqüentes aos milhares de puteiros estabelecidos na sociedade, a “motelândia”, e de toda a rede de sexo fácil (e pago) que existe hoje em nossa cidade e no país.
E o mito continua, a eterna ereção, orgasmos de 10 minutos, segurar a ejaculação por toda eternidade, vitalidade total e eterna. Haja viagra e cialis, ovo de codorna, amendoim, levanta-pau, carqueja, até pó de osso de chifre de boi queimado. E no meu sanduíche não tinha nada disto!
E o nariz do povo nem mexe! E tudo só aumenta, qual história de pescador: dez sem tirar, vinte, trinta, um final de semana inteiro. E a mulherada só iluminando, tamanho prazer ilimitado.
Sabemos que a fantasia e a sexualidade caminham de mãos dadas, mas o exagero é ridículo. De verdade o que ocorre é um tremendo complexo de inferioridade masculino, por sabermos o tamanho de nossa fragilidade frente aos ilimitados orgasmos múltiplos femininos. Aquela criatura que sangra todo mês e não morre, que não é de Deus e que, segundo Descartes, em seu Discurso do Método, não tem alma, é infinita para ter prazer!
Vixe! E lá vai o coitado do homem santo, de Deus, tendo de satisfazer algo insaciável.
Mas, já que na realidade falta couro para dar tamanha vazão a insaciabilidade feminina, sobra na fantasia uma compensação psíquica.
Uma ereção após uma ejaculação leva tempo, o que não ocorre com as mulheres. Elas, sim, sempre estão prontas. Prazer, prazer e mais prazer.
Só que no imperativo machista o que ocorre é justamente o contrário, visto que, de verdade, a maior parte das mulheres jamais sentiu um orgasmo.
Vou finalizar com algo que me deixa mais triste nisso tudo. Há anos venho observando um aspecto que foi me ensinado por minha avó paterna, velha sábia dona Virgínia. Algo que gradativamente vem caindo em extinção. A cada dia que passa mais perdemos noção do que é a palavra intimidade. Nem homens nem mulheres dão mais conta disto. O negócio é aparecer, não basta transar, tem de espalhar para todo mundo, transformar em manchete, expor, tornar público. Assim, cada dia mais os relacionamentos vão tornando-se comercializados e superficiais.
Emerge todo um processo de perversão em que o outro passa a não ser mais levado em conta, viramos narcisistas, e o relacionamento a dois uma masturbação egóica a dois. Sociedade, veja que mulher gostosa estou abocanhando! Veja que homem gostoso e rico eu tenho para desfilar e pagar minhas contas! E o sentimento, em que lugar ficou? Lá no fundo do poço do peito, apagado, amargurado por não saciar-se com objetos. E os objetos, por sua vez passando cada dia mais a tornarem-se descartáveis, qual nossos novos modelos de relacionamento.
E assim vamos nós, uma sociedade fingindo que tudo isso é normal, lindo, bonito, qual vitrine de shopping center, colocando preço em todos.
E qual é o seu preço?

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